terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Saltimboca alla Romana com Chianti Classico direto da Toscana


No começo de dezembro foi o aniversário da minha patroa, e como estávamos sem tempo de sair, por causa do filhote, resolvemos fazer um jantarzinho em casa, nem por isso fizemos qualquer coisa, resolvemos aproveitar a data especial para fazer um prato diferente e tomar aquele vinho...aquele que estou guardando desde a viagem à Itália depois de ter sobrevivido dentro da mala de volta ao Brasil.

Pois bem, resolvi fazer um prato chamado Saltimboca alla Romana e para acompanhar comprei uma massa recheada para servir com molho de tomate em pedaços. Para este prato resolvemos abrir o nosso chianti clássico, um Rocca delle Macìe chamado Tenuta Sant'Alfonso, que compramos quando visitamos o local na toscana, por sinal, uma bela vinícola.

Em Firenze, conhecemos e ficamos amigo do gerente do hotel que ficamos hospedados, Mauro Betti, que nos indicou alguns ótimos locais e ótimos restaurantes da cidade. Além de ter nos presenteado com um belissímo azeite fabricado pela sua família, também nos indicou algumas vinícolas da toscana para visitar, entre elas a Rocca delle Macìe.

Seguindo os conselhos do nosso amigo italiano, dirigirmos por uma estradela pitoresca da toscana parando de vinícola em vinícola para degustar e comprar alguns vinhos. Depois de passar a cidade de Greve in Chianti, encontramos a vinícola indicada, uma das mais bonitas da região.

Fomos muito bem atendidos pela especialista de vinhos que nos apresentou uma grande variedade da bebida santa, aproveitamos então para degustar alguns vinhos com um casal belga que encontramos lá no local e logo fomos perguntando sobre um dos vinhos que nosso amigo nos sugeriu, o Tenuta Sant'Alfonso, que ele disse que era um dos melhores chiantis da região.

Degustamos e compramos uma garrafa, que guardamos e embalamos com muito cuidado na mala para não quebrar durante a viagem. Engraçado foi ter visto na prateleira desta vinícola um vinho brasileiro da marca Rio Sol, que pertence a Expand, loja muito conhecida no Brasil. Pelo que a especialista me falou, a Expand é parceira da Rocca fazendo assim intercâmbio de vinhos entre os dois países.

Depois de tanto provar vinhos, precisávamos de um belo almoço, perguntamos para a especialista em vinhos se havia algum lugar próximo para almoçarmos, ela sugeriu o restaurante da própria vinícola que ficava à 4 Km de lá.

Seguindo os conselhos da moça, pegamos a estradela novamente, entramos em uma estrada menor ainda de terra batida que nos levou até a entrada da propriedade. Continuando o caminho, começamos a ver os imensos vinhedos e no alto da colina uma contrução de pedra, bem típica daquela região. O complexo na verdade era uma mistura de restaurante e pousada para os amantes dos vinhos da toscana, tinha até uma piscina para hóspedes. Apesar de ser da vínicola, a pousada tinha um nome próprio - Riserva di Fizzano.

Estacionamos o carro no local e fomos até o restaurante, debaixo daquele sol muito forte do verão italiano, sentamos debaixo dos enormes ombrelones, onde estavam servindo alguns clientes.
Pedimos um belíssimo vinho branco chamado Occhio a Vento, com tons de maracujá, que lembro até hoje. Não lembro do prato que comemos lá, mas do vinho e do lugar não me esquecerei tão cedo.

Bom, voltando ao jantar de aniversário, ficou realmente muito bom, modéstia à parte, os filés com camadas de presunto cru e de folhas de sálvia lembravam um pouco daquele ar italiano que respirávamos com prazer. Com o vinho Tenuta ficou ainda melhor, um vinho bem estruturado e forte, característico de um bom chianti clássico.

Além de degustar aquele jantar maravilhoso, do lado da mãe do ano, foi ótimo recordar novamente essas histórias que passamos juntos naquela viagem à Europa e lembrar que uma grande viagem é construída por ótimos conselhos.


Receita - Saltimboca alla romana

6 escalopinhos de filé mignon
10-15 sálvias em folhas picada
100ml de vinho branco
15ml de azeite
farinha de trigo
sal e pimenta do reino
15g de manteiga
100ml de caldo de carne ou legumes
100g de presunto cru em fatias finas

Espalhar a sálvia em um dos lados do escalope e cobrir com uma fatia de presunto, aperte bem para que o presunto se prenda ao escalope. Do lado oposto, tempere com sal e pimenta do reino, passe farinha e frite-os rapidamente (começando pelo lado do presunto) de ambos os lados em uma frigideira com azeite e manteiga, depois de fritos juntar o vinho ao molho que sobrou, deixar reduzir e colocar os escalopinhos no prato e regá-los com o molho.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sardela - Italiana ou Brasileira? (Receita original)


Um dos Antipasti que mais gosto, é a famosa Sardela passada em um pão italiano, boa opção pra começar bem o almoço.

Mas afinal, essa Sardela que conhecemos e adoramos é italiana ou brasileira?

Bom, Sardela ou Sardine: em italiano significa sardinha, que é a base de preparo do antipasto, porém na Itália não há nehuma receita com este nome.
A sardela é uma espécie de pasta que, além do peixe, leva também azeite, pimentão, tomate, pimenta e outros temperos.

Existe uma receita bem parecida na Itália, originaria da Calábria, que leva anchovas recém-nascidas, chamadas de "bianchetti" que são curtidas dentro vidros por muito tempo em salmoura e misturadas com pimenta preta, pimentões e azeite, conhecida como Murstica, ou também como Caviar Calabrese "Calabrese caviar" ou Rosamarina

Provavelmente o que realmente aconteceu, foi que com a chegada dos Italianos em São Paulo, muitas das receitas originais acabaram sendo mudadas por causa dos ingredientes, era muito difícil ou até mesmo impossível achar os verdadeiros ingredientes Italianos aqui no Brasil, ainda mais naquela época. Isso aconteceu com vários pratos Italianos que hoje são feitos no Brasil com ingredientes substituídos, um certo movimento de tropicalização dos pratos. Por exemplo, aqui no Brasil o molho Pesto é feito com amêndoas e não com o Pinoli, o ingrediente original.

Teoricamente, isso foi o que aconteceu também com a Sardela, ela foi adaptada da receita original de Murstica da Calábria, substituindo-se o peixe Bianchetti pela Sardinha, muito mais fácil de encontrar e muito mais barato aqui no Brasil, sendo assim, rebatizaram o antipasto com o nome do ingrediente principal em italiano - Sardela.

Provavelmente a explicação definitiva para a origem da Sardela nunca será revelada, mas uma coisa é certa: esta mistura tipicamente mediterrânea que foi levada por Árabes para a Calábria há centenas de anos e depois trazida por Italianos para o Brasil, definitivamente é mezza italiana e mezza brasiliana.

Receita de Sardela (Original)

Ingredientes:
5 pimentões vermelhos em conserva
3/4 xic. de azeite de oliva extra virgem
1 lata de aliche sem pele e sem espinhas conservada no azeite (aprox. 125gr)
1 pimenta dedo de moça
1 pitada de sementes de erva doce

Modo de Fazer:
Bata tudo no liqüidificador ou processador (sem o aliche), coloque numa panela duas horas de fogo, para o pimentão atingir seu ponto, depois disso desligue o fogo e coloque o aliche. Deixe esfriar e leve a geladeira. Sirva após 2 horas.


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tour Aéreo da cidade de São Paulo feito pelo dirigível da Goodyear


Pra quem gosta muito de fotografia + cidade de São Paulo, vai aqui mais uma indicação:

Uma pequena coleção de fotos muito atuais de vários marcos da cidade, todas elas tiradas daquele dirigível da Goodyear, o Ventura

Muito legal a iniciativa da prefeitura para quem quer conhecer a cidade e ver como do alto, ela é ainda mais bonita. 
Veja como é possível realçar a arquitetura e a grandiosidade da nossa cidade, se continuarmos com programas como o cidade limpa ou programas de revitalizações de regiões inteiras como o PROCENTRO, São Paulo pode voltar a ser uma cidade muito mais agradável.
O governo federal também tem um programa de recuperação e preservação do patrimônio histórico, o Monumenta.

Curta aqui algumas das fotos:



Catedral da Sé




Museu do Ipiranga




Parque do Ibirapuera




Pinacoteca



Masp



Estação Júlio Prestes



Estação da Luz




quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Milhares de sobrenomes italianos em São Paulo

Não sei se é porque fui criado em São Bernardo, mas 5 dos meus 6 melhores amigos de infância têm sobrenomes italianos, contando com o meu são ao todo 6:

Della Negra
Brunelli
Venelli
Gaya
Vizoni
Noveletto

Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul são cidades que receberam muitos imigrantes italianos durante a invasão italiana em São Paulo, o ABC paulista é um dos maiores pólos industriais do país, mas também é mais um dos redutos italianos dentro de São Paulo.

Minha avó que foi criada em São Caetano dizia que na década de 30/40, eles iam de carroça de São Caetano até o bairro do Demarchi em São Bernardo para almoçar em pequenos restaurantes instalados na casa das famílias italianas que no começo do século adquiriram várias chácaras no local.

Nessa época estes restaurantes começaram a ficar famosos principalmente porque eles estavam no caminho para o litoral, muitas famílias paravam nas chácaras para almoçar antes de continuar a longa viagem de São Paulo até Santos, e desde então, a rota dos restaurantes do Demarchi começou a ficar conhecida, a famosa rota do frango com polenta.

O bairro recebeu o nome em homenagem a família italiana Demarchi, mas abrigou muitas outras famílias como os Battistini, os Morassi, os Tolotti e os Capassi, todos eles foram encaminhados da hospedaria para essas terras chamadas de Colônias, terras intactas que foram praticamente doadas pelo governo para os imigrantes plantarem e cultivarem alimentos.

Assim como os Demarchi, a família Battistini também virou nome de bairro, ali colado ao Demarchi, ambos atualmente conhecidos pelos gigantescos restaurantes que já não são tão movimentados, por abrigar a fábrica da Volkswagem e várias empresas de transportadoras de carros, as conhecidas cegonheiras.

Essa é mais de uma das milhares de pequenas histórias da Italianada em São Paulo, todas elas espalhadas por todo o estado, pois são milhares de famílias, milhares de descendentes.

Além dos meus amigos de infância, relacionei aqui mais alguns sobrenomes de pessoas que conheci ou que trabalhei até hoje, alguns são meus amigos, outros apenas colegas, mas o que vale é saber que cada um deles carrega um pouco da história de cada imigrante italiano que chegou em São Paulo.

Albertini
Agnelli
Amadesi
Baggio
Barbieri
Barone
Bassi
Bellentani
Belon
Betti
Brussi
Buim
Caliari
Cammarano
Canale
Carone
Carretero
Caselli
Cavallini
Coldibelli
Colussi
Coppini
Del Buono
Ferrari
Foganholi
Fortis
Franchini
Fuzinato
Fuzzo
Genovesi
Gianello
Giglio
Grassone
La Pastina
Lanza
Levi
Lucato
Lucena
Mantovani
Marmobello
Marquesi
Martinelli
Marucci
Mastromauro
Matiazzi
Medici
Mellone
Mengai
Moscarella
Mucheroni
Nazzoni
Negri
Orsini
Otoboni
Palermo
Paschino
Pellegrini
Perrone
Pierin
Piero
Pugliese
Raimondi
Ricci
Romano
Ronqui
Santucci
Sartori
Savegnago
Savone
Scagliarini
Scannapieco
Scattine
Seleri
Serciloto
Spirandelli
Tassinari
Toldo
Tonussi
Traldi
Travaglin
Trocoletto
Valdrighi
Vecchi
Vechiato
Venditti
Venturoso
Vitta
Vivolo
Vulcano
Zago
Zorzella

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Coleção de fotos antigas de São Paulo


Muito legal esta coleção de fotos antigas de São Paulo feita pela Folha, como sempre, cada foto tem um significado especial para a cidade, mas o mais interessante é ver o progresso e recordar alguns pontos turísticos da nossa megalópole.

Olhando as belas fotos do começo do século, parecem que foram tiradas na Europa por causa dos enormes e majestosos casarões, da arquitetura européia que se instalou na cidade.

É uma pena que a maioria do que vemos nas fotos não foi preservado, muita coisa foi demolida para construir prédios mais modernos e o que sobrou esta atualmente deteriorado. Dos prédios antigos que sobraram na cidade, muito pouca coisa mesmo foi restaurada.

Ótima oportunidade para conhecer um pouco da história da nossa cidade, vale a pena ver todas as fotos:


Avenida Paulista no sentido Consolação - 1902
Vista da avenida Paulista, no sentido da Consolação, a partir do palacete de Adam von Bülow, situado entre as alamedas Campinas, que se vê no primeiro plano, e a Joaquim Eugênio de Lima. O palacete foi substituído pelo edifício Paulicéia, existente ainda hoje no local. No horizonte, o Morro do Jaraguá. A avenida foi inaugurada em 1891 com seus quase 3 km de extensão e 30 m de largura, por vários anos sem energia elétrica e sem calçamento e, em pouco tempo, tornou-se o ponto mais aristocrático da capital, reunindo a elite paulista, que ali construiu suas sofisticadas mansões.



Estação da Luz - SPR - 1902
Vista da Estação da Luz, tomada da Igreja de São Cristóvão, à época integrada ao Seminário Episcopal.
No primeiro plano, à esquerda, vê-se a passagem dos trilhos da São Paulo Railway sob o nível do pontilhão que leva à rua Brigadeiro Tobias, e as edificações da rua da Estação (depois rua Mauá). No centro, ao fundo, pode-se ver a torre da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, situada à alameda Glete, nos Campos Elíseos. E, à direita, em primeiro plano o largo do Jardim, ponto inicial da avenida Tiradentes, seguido de parte do Liceu de Artes e Ofícios, obra de Ramos de Azevedo atualmente ocupada pela Pinacoteca do Estado, e o Jardim da Luz.



Clube de Regatas do Tietê - 1905
Vista do Clube de Regatas São Paulo, situado nas imediações da Ponte Grande (atual Ponte das Bandeiras). Fundado em 1903 às margens do rio Tietê, foi um dos primeiros centros esportivos da cidade, sendo sucedido em 1907 pelo Clube de Regatas Tietê.



Seminário Episcopal na avenida Tiradentes - 1905
Vista do Seminário Episcopal e Igreja de São Cristóvão, tomada provavelmente do Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca do Estado). A edificação, situada no princípio da avenida Tiradentes, divisava com a rua São Caetano, à esquerda, e a estrada de ferro São Paulo Railway, à direita, onde confluíam as ruas da Estação (atual Mauá) e Florêncio de Abreu. O palacete que se vê na imagem, na esquina da Florêncio de Abreu, após o pontilhão, pertencia à Marquesa de Itu. O seminário, inaugurado em 1856, passou por inúmeras transformações, até que em 1927 teve demolida a ala direita da igreja, para abertura da atual rua 25 de Janeiro.




Largo da Sé, confluência das ruas 15 de Novembro e Direita. - 1912
Vista da rua 15 de Novembro, na confluência com o largo da Sé. No centro da imagem está o edifício da Casa Lebre, na esquina com a rua Direita, e a Casa Baruel, no edifício com a cúpula. No edifício da direita, funcionava o antigo Café Girondino.



Praça da República - 1915
Vista de uma das pontes metálicas da praça da República, ainda lá existente, apesar das inúmeras transformações ocorridas na praça.



Teatro Municipal - 1920
Vista do Teatro Municipal e da praça Ramos de Azevedo, provavelmente a partir do edifício da Light. Com as obras iniciadas em junho/1903, foi inaugurado em 12/setembro/1911 com apresentação da ópera Hamlet, diante de seus 1.816 lugares lotados e grande congestionamento de automóveis nos arredores.



Rua Líbero Badaró, sentido Praça do Patriarca. - 1920
Vista da rua Líbero Badaró, sentido praça do Patriarca, com as fachadas posteriores dos casarões e palacetes do vale do Anhangabaú.



Palacete Prates (Automóvel Club) no vale do Anhangabaú - 1920
Vista em perspectiva do Palacete Prates, a partir do Viaduto do Chá. Construído em 1911 e adaptado em 1913 para abrigar o Automovel Club, foi demolido em 1950. Atualmente, no local está o edifício Conde Prates, inaugurado em 1957.



Mosteiro de São Bento - 1920
Vista frontal do Mosteiro de São Bento e do largo de mesmo nome. O novo edifício, que substituiu o primitivo mosteiro, teve sua pedra fundamental lançada em 13 de novembro de 1910 e sua cerimônia de sagração em 1922. À direita pode-se ver o início da rua Florêncio de Abreu.



Largo e Rua de São Bento - 1920
Vista do largo de São Bento, em direção à rua São Bento e à Igreja de São Francisco, cujo frontão pode-se vislumbrar ao fundo. O casario que se vê à esquerda mantém-se até os dias de hoje com as mesmas características, da mesma forma ocupado por estabelecimentos comerciais. No centro, à esquerda, na esquina com a rua Boa Vista, vê-se o prédio do famoso Hotel d'Oeste, reconstruído após incêndio de 1901 e, à direita, área que fora do jardim, agora tomada pelos automóveis.



Rua 15 de Novembro - 1920
Rua 15 de Novembro, em direção à praça da Sé, tomada da praça Antonio Prado. Uma das principais vias públicas da cidade, onde se achavam luxuosos comércios, os mais elegantes pontos de encontro além de grande número de estabelecimentos bancários e profissionais, formava com as ruas Direita e São Bento o chamado "triângulo", região de grande concentração de lazer e negócios.



Vale do Anhangabaú. - 1927
Panorama do vale do Anhangabaú, com destaque para o edifício Sampaio Moreira, o "avô dos arranha-céus", entre os palacetes Prates. Em primeiro plano, à direita, vê-se trecho do antigo Viaduto do Chá e parte das obras do edifício da Light. À esquerda, pode-se ver as torres do Mosteiro de São Bento.


Todas as fotos são de Guilherme Gaensly

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Influência italiana em São Paulo

Certamente a influência dos descendentes do império romano em São Paulo é enorme, não só pela mão-de-obra, vontade de trabalhar, novos costumes, eventos, eles trouxeram também idéias anarquista e socialistas para a terra da garoa.

No início, a maioria dos imigrantes italianos acabaram indo para as fazendas de café do interior do Estado de São Paulo, principalmente aquelas cidades localizadas ao longo das ferrovias do Estado, para onde foram cerca de 90 por cento dos imigrantes que deixaram a Hospedaria do Brás.

As principais cidades que acolheram os imigrantes foram Campinas, Vinhedo, Jundiaí, Cerquilho, Salto, Itu, Tietê, Conchas, Jumirim, Piracicaba, São José do Rio Pardo e as 3 cidades que compõem o ABC paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), todas elas ainda concentram uma enorme quantidade de descendentes de italianos. Pra se ter uma idéia, São José do Rio Pardo, por exemplo, chegou a ser considerada, uma cidade Vêneta (da região do Vêneto na Itália), dada a quantidade de italianos que se instalou lá na época.

Por causa do encolhimento dos lucros nas lavouras de café, e a dificuldade de encontrar trabalho na zona rural, muitos imigrantes começaram a ir para as zonas urbanas, a maioria acabou se espalhando pela capital em alguns bairros de classe operária como o Brás, Mooca, Bela Vista, Bom Retiro, Belenzinho, Canindé, Bexiga, Pari, Vila Carrão e Santana, alguns deles conhecidos por terem mais torcedores do Palmeiras do que do Corinthians. Os Napolitanos, por exemplo, ficavam mais agrupados no Brás, calabreses no Bixiga e venezianos no Bom Retiro.

Muitos deles já tinham profissões na Itália como ferreiros, marceneiros, fabricantes de massas, jornaleiros, tecelões, artistas, sapateiros, tintureiros, alfaiates e os "capomastri" (mestres-de-obra), que introduziram novas técnicas na construção civil e que, ao contrário dos anteriores, utilizavam tijolos de barro cozido em suas obras.

Com a vinda dos "capomastri", a demanda por este tipo de tijolo aumentou muito em São Paulo, e para suprir esta demanda, a região de Guarulhos abrigou várias olarias que produziam este tipo de tijolo.

O padastro do meu nonno chamava-se Caetano Coppini e junto com mais 2 de seus filhos (Irio e Armando Coppini), conseguiram uma autorização para explorar argila e assim criar uma destas olarias de Guarulhos.

Meu nonno, Antonio Della Negra, trabalhava na olaria diariamente e saia de São Caetano do Sul, onde morava, e ia até Guarulhos. Hoje o local deu o lugar ao aeroporto de Cumbica, uma grande distância hoje em dia, imagine na época.

Este decreto comprova a autorizaçao no diário oficial. (PDF)

"DECRETO Nº 29347, DE 12 DE MARÇO DE 1951. Autoriza os Cidadãos Brasileiros Irio Coppini e Armando Coppini a Lavrar Argila Refrataria No Municipio de Guarulhos, Estado de São Paulo."

Os "Capomastri" influenciaram muito na arquitetura da cidade, pois lideravam projetos e participavam dos desenhos das obras, muitos deles produzidos em cojunto com os artistas também italianos. Cerca de 90% de todos os monumentos paulistanos foram produzidos ou idealizados por italianos, e obras como o Teatro Municipal, o Palácio das Indústrias, o Mercado Municipal e o Liceu de Artes e Ofícios, foram todos edificados com a ajuda da italianada.

Os Italianos por serem grandes amantes de óperas, também ajudaram a erguer e encher os primeiros teatros paulistanos, um deles, o produtor Franco Zampari, foi produtor, fundador e diretor administrativo do Teatro Brasileiro de Comédia. Isso explica porque no reduto italiano da cidade, os bairros da Bela Vista e do Bixiga, são os locais da maior concentração dos teatros paulistanos.

Economicamente, os italianos foram importantíssimos para São Paulo, não só na construção civil, mas também na forma como participaram do processo de industrialização da cidade. Rodolfo Crespi e Francisco Matarazzo foram os 2 principais industriais italianos do país, sendo o último fundador do império Indústrias Reunidas Matarazzo, que chegou a ter 350 empresas.

Além dos patrões, os operários italianos com tradição anarquista ajudaram na organização dos movimentos sindicais trabalhistas, criaram uma consciência proletária nunca vista antes no país, resultando em greves no início do século. Daí surgiu a influencia na política em São Paulo, ajudando a fundar o Partido Comunista Brasileiro, atual Partido Popular Socialista (PPS).

Para abrigar toda a italianada em São Paulo e não perder as raízes italianas, a comunidade trouxe algumas festas e eventos típicos para a capital paulista que acabaram influenciando resto do país. Eventos como a tradicional festa da Paróquia Nossa Sra. Achiropita, Nossa Sra. de Casaluce e a festa de San Vito, são comemorados todos os anos em São Paulo.

Além da influência em nosso forte sotaque paulistano, agregando muitas novas palavras para o nosso vocabulário, não podemos esquecer da famosa cozinha italiana que se instalou por aqui com milhares de pizzarias e cantinas espalhadas por toda a cidade.

A comunidade acabou criando também colégios populares para alfabetizar as suas crianças. Os italianos fundaram o Colégio Dante Alighieri, na região dos Jardins, hoje em dia, um dos colégios mais bem conceituados do país.

Para ficar mais perto de sua terra natal, trouxeram a bocha e a malha, jogos praticados na Itália e os apaixonados pelo futebol fundaram clube Palestra Itália (Palmeiras) e o Clube Atlético Juventus.

A influência italiana na cidade é muito clara, esta espalhada por todos os cantos da cidade, desde monumentos até pequenas cantinas ou Osteria, como são chamadas por lá.

O Instituto Italiano de Cultura de São Paulo foi criado na cidade pelo governo italiano para manter vivas e reativar os valores da tradição e as ligações com a cultura da Itália.

Eles não conseguiram trazer toda a Itália para dentro de São Paulo, mas um pedaço dela, com certeza está aqui conosco.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Também tem coisa boa na música italiana

Muito engraçado como os Italianos são exagerados na música, hoje descobri um cantor italiano que faz aquele estilo pop rock bem meloso, com muitos arranjos e vários instrumentos, alguns deles muito mais presentes do que a propria voz do cantor. 

Isso mesmo, o nome dele é Matteo Della Negra, um Della Negra fazendo sucesso em Milão? Não sei se faz sucesso, mas até que pela produção do álbum, pode fazer... escute aqui.

Sinceramente, apesar de ser meu parente, non mi piace molto este tipo de música, acho que isso lá na Itália seria equivalente ao nosso Sertanejo, ou algo tipo Roupa Nova, bem pop mesmo, definitivamente não é a minha praia.

Quando estive lá ouvi muitas rádios, pois dirigi muito por toda a Itália e conheci acabei conhecendo muita coisa boa, como também muita coisa brega, aliás o que não falta lá são as músicas bregas.
Lógico que as rádios influenciam bastante o público, mas é na TV que os Italianos vão mais fundo ainda, pois existem muitos programas musicais, shows e apresentações de bandas, muito mais do que aqui no Brasil.
Uma vez vi um programa na RAI que era um show para a TV no sábado a noite, uma homenagem especial aos napolitanos com a presença de Sophia Loren e Pepino di Capri, simplesmente ilário.

Mas também há coisas legais e acabei trazendo 2 ótimos CDs - Negramaro e Zucchero.
A primeira, uma banda mais moderna com um cantor careca, bem no estilo do vocalista do Live, rock muito bom, que fazia muito sucesso por lá, principalmente esta música aqui: Parlami d'amore 

O Zucchero (que significa açúcar em Italiano) é um rockeiro mais tradicional da Itália, que faz muito sucesso lá e também fora, ele tem uma bela carreira internacional, incluíndo alguns sucessos aqui no Brasil, como Senza Una Donna, hoje, considerada um clássico brega dos anos 80.
A música que tocou muito lá e me motivou a comprar o CD, foi a Un Kilo, que mostra bem a sua voz rouca e a sua veia de rockeiro cinquentão.

O mercado brasileiro não tem muita vontade de consumir bandas que cantam em espanhol, mesmo rodeados de ótimas bandas sulamericanas, pois bem, não consigo imaginar o Brasil consumindo músicas em italiano. Mesmo sendo ótimas bandas, acho difícil conseguirem um lugar ao sol, mesmo aqui em São Paulo.




sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Vinho Italiano Castello Maggiore Valpolicella

Meu objetivo agora é dividir tudo que encontro que é bom e barato, que vale a pena realmente consumir, afinal qual é o mérito de dividir com alguem um serviço ou produto que é bom e caro? Se a coisa é cara ela não pode ser boa, tem que ser ótima.

Isso não quer dizer que não aprecio produtos caros, consumo sim, por exemplo trouxe um Brunello di Montalcino, safra de 99, da Itália que custa por aqui uns R$ 100 reais a garrafa, este vinho realmente vale a pena, mas tenho tomado por aqui alguns vinhos na faixa dos R$ 50 reais que não valeram o investimento, nestes casos, fico com o bom e barato, o vinho do dia-a-dia.

Este é o caso do Castello Maggiore Valpolicella, que acabei conhecendo em um daqueles meus almoços em cantinas de São Paulo, ao pedir uma lasagna de berinjela, decidi beber uma taça de vinho italiano para acompanhar, e o mais indicado foi o Castello Maggiore Valpolicella, que por incrível que pareça, não é caro e esta na faixa de preço de um vinho sul-americano médio.

Gostei muito do vinho, a primeira impressão foi de ser um vinho mais suave que os outros italianos, chegando quase a suavidade dos vinhos Australianos ou Sul-Africanos.
Além de ser suave, ele é bem frutado e muito fácil de beber, acompanhou muito bem o prato, mas não deixa marcas muito fortes no paladar.

O Vinho Castello Maggiore Valpolicella, é da região do Vêneto, não é fácil de encontrá-lo aqui, não é vendido em supermercados, pelo menos não achei um que vendesse, ele é mais encontrado em restaurantes, mas é vendido em algumas distribuidoras de bebidas por um preço em média de R$ 22,00 a garrafa. Esse preço, é o que se paga por um vinho Argentino ou do Chileno simples, por ser um vinho europeu, ele está bem em conta, fazendo uma simples comparação.

Além da uva Valpolicella, este vinho também é vendido nas versões Merlot, Cabernet, Montepulciano d'Abruzzo, entre outras. O Merlot e o Cabernet cultivados na Europa, eu prefiro não arriscar, agora o Montepulciano parece ser bem interessantes.

Dica para comprar: Reluma

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tetsuo Segui, um olhar diferenciado da cidade



Enquanto aguardava a minha mulher ser atendida, em um consultório médico de São Paulo, reparei em algumas fotos espalhadas pelas paredes, grandes fotos de São Paulo, com um olhar bem diferente da cidade, aquelas coisas que poucas pessoas conseguem ver.

O cardiotoco que ela fez para saber se o Bruno estava bem não demorou muito, mas deu vontade de ficar lá mais um pouquinho pra ver aquela mini-exposição, fiquei realmente impressionado com a qualidade das fotos, pra falar a verdade não parecia nem um pouco a cidade onde moro.

Assim que consegui, anotei o nome do fotógrafo, pois gostaria de conhecer um pouco mais do trabalho dele, mas acabei não achando muita coisa na WEB quando cheguei em casa.

Achei um material em baixa qualidade de uma exposição de fotos em comemoração dos 50 anos do Parque do Ibirapuera que ele fez, não eram as mesmas fotos que vi no consultório e a qualidade não ajuda muito, mas dá para ter noção de como a cidade é linda vista por este olhar diferenciado do fotógrafo Tetsuo Segui.

Vou procurar mais coisas dele, se achar, posto aqui.

Aproveitem:









O trabalho completo está aqui

terça-feira, 16 de setembro de 2008

La reggiana - Restaurante e Rotisserie no Brooklin

Provar uma pasta italiana não é tão barato assim para comer frequentemente em restaurantes aqui em São Paulo, quase todos eles são caros e 2 pessoas acabam deixando pelo menos 3 dígitos ao sair do local, isto falando em locais razoáveis, pois a alta cozinha italiana de São Paulo é uma das mais caras do mundo.

Esta diversidade de preços e qualidades é o que faz de São Paulo um dos maiores pólos gastronômicos da comida italiana fora da Itália.

Mas falando em comer bem e barato, a Rotisserie La reggiana é um restaurante com cara de padaria, fundado em 1967 pela família Fialdini, que faz pratos deliciosos e massas caseiras de ótima qualidade.

A casa fica na Avenida Morumbi na zona sul de São Paulo, durante a semana, na hora do almoço, a rotisserie tem um movimento intenso de pessoas que trabalham ali perto. Como o salão é pequeno, as pessoas podem sentar em um salão interno, que o acesso é feito pela cozinha, entre cozinheiros, panelas e fornos, ou até mesmo na mesa do gerente.

O local é simples, muito limpo, atendimento muito bom e recheado de antepastos (antipasti) como: sardela, azeitonas, patês variados, mozzarelas de bufala, pães italianos, abobrinha recheada de tomate seco, berinjela assada, cantucci, muitos doces, tudo pode ser pedido no balcão.

Os pratos individuais, pratos da semana, saem em média por 14,00 reais, a lasagna é muito boa, fresca e assada na hora, melhor ainda acompanhada por uma taça de vinho chileno (Aresti cabernet sauvignon 2005) que sai por 6,00 reais. Ainda há uma variedade muito grande de massas, todas feitas na casa, especialidade da casa.

Qualidade e preço, uma boa opção para comer uma pasta durante a semana, sem ficar com o peso na conciência depois de passar o cartão no caixa, mas cuidado para não passar muito pela cozinha para não ficar defumado.

La reggiana - Restaurante e Rotisserie

Av. Morumbi, 8567
Brooklin - São paulo
Tel: 5095-9900

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

História da Famiglia Della Negra - parte II

Ahhhaaaah! Meu filho acabou de nascer! Bruno Della Negra, dia 22 de agosto de 2008, bonitão, com 2 semanas e já tem cara de moleque, nasceu com 3,700 kg e 51 cm, às 16h56min. **

Em comemoração a este novo membro da família, continuarei a contar aqui a história da italianada que chegou no porto de Santos pra trabalhar em São Paulo e que trouxe o sobrenome que ele levará pelo resto de sua vida.


Veja aqui a primeira parte desta história - História da Famiglia Della Negra

Depois de conseguir alguns indícios da origem da família, decidir fazer a viagem a Europa, não só para conhecer a Itália, mas aproveitar e conhecer a Espanha, já que também tenho sangue espanhol por parte de mãe. Impressionante como apesar de ser mais espanhol do que italiano, sou neto de espanhois e bisneto de italianos, o sobrenome que carrego me faz muito mais italiano do que espanhol, no meu caso, o sobrenome define muito mais a minha origem do que o meu sangue.

Minha idéia inicial era chegar em Madrid e de lá alugar um carro para ir até Roma, passando por várias cidades da Espanha, França e Itália.
Foi o que fizemos, 30 dias conhecendo cidades dos 3 países: Na Espanha: Madrid, Toledo, Segovia, Sevilla, Granada, Almeria, Peniscola, Valencia, Barcelona. Na França: Avignon e Mônaco. Na Itália: Castell' Arquato, Verona, Montecchio Maggiore, Arzignano, Venezia, Firenze, Greve in Chianti, San Giminiano, Siena, Montalcino e Roma.

A viagem simplesmente foi maravilhosa, perfeita em cada detalhe de cada lugar que conhecemos, mas quero contar um pouco mais de um lugar especial e que faz parte da minha história: Montecchio Maggiore, uma cidade muito pequena que fica próximo de Vicenza e de Verona.

Ao chegar em Montecchio Maggiore, a primeira coisa foi procurar um local para dormir, algo que fosse barato para passar apenas uma noite. Achamos uma pensão com um restaurante em baixo por 50 euros para o casal com café da manhã, e ficamos por lá.

Como toda cidade pequena da Itália, é muito tranquila sossegada, muitos poucos carros na rua e uma pequena praça central com uma bela igreja que tem uma torre de sino muito alta.

Por incrível que pareça, esta cidade é conhecida na Itália por causa da história do Romeo e Giulietta.

Existem 2 castelos medievais ficam um do lado do outro no topo de 2 montanhas, Um deles é o castelo dos Montecchio e o outro castelo é dos Capulettos, do nosso quarto dava para ver os dois, a imagem é realmente impressionante, parece que colocaram os castelos lá de com a mão.

Dizem por lá que estas 2 famílias realmente existiram e a história de William Shakespeare é verdadeira. Aliás é um insulto se você desconfiar da autencidade dessa história em Montecchio Maggiore. Diferente de como é conhecido, não é em Verona o verdadeiro lugar da história dos dois amantes. Em Verona apenas existe a Casa di Giulietta, mas é em Montecchio Maggiore que ficam os castelos das 2 famílias inimigas.





Mais legal ainda é que dentro destes castelos são feitos alguns eventos que toda a cidade comparece, por exemplo, quando estavamos por lá, estavam passando algumas sessões de cinema a céu aberto dentro do Castello di Romeo. Além de cinema, os castelos abrigam peças de teatro e algumas festas locais. Em uma das noites que passamos lá, fomos jantar no restaurante que fica dentro do Castello di Giulietta, maravilhoso e caro, mas vale a pena pelo clima de romance que paira no ar, restaurante que funciona só a noite e que depois vira uma balada, muito frequentada pelos moradores.

Bom, mas o meu principal objetivo de estar lá não era conhecer os castelos e sim ir até a Comune di Montecchio Maggiore para tentar procurar a certidão de nascimento do meu bisavô, Giuseppe Della Negra, que poderia ter nascido lá, já que seu irmão nasceu.

Fui até a prefeitura e entreguei um papel com um pedido formal a comune solicitando o documento e protocolei o pedido, foi o máximo que consegui lá. Havia uma fila de pessoas tentando protocolar outros documentos, não iria gastar meu tempo em filas na Itália, mas consegui pelo menos o protocolo.

Outra tentativa minha foi buscar na igreja principal da cidade o livro de batismo da década de 1890 para tentar buscar o nome dele, mas entrei na igreja sozinho, não havia ninguem dentro, procurei o padre naquele ambiente sombrio e aquele silêncio mórbido e não consegui encontrar nenhum ser vivo, acho que nem os mortos estavam por lá.

Fiquei um pouco decepcionado por não conseguir nada além de um documento protocolado e uma boa impressão da cidade, nenhuma certidão, nenhuma dica a mais. Sentei em um café ao lado da igreja e fiquei ali olhando aquela cidade pacata, aquele silêncio, e agora?

Depois de 1 dia e meio na cidade decidimos seguir viagem, mas antes queria checar uma coisinha ali perto.
Dirigi por quase 20 KM até chegar em Arzignano por um caminho lindo, uma estradinha pequena e cheia de vinícolas. Decidi passar por lá pois tinha ficado muito curioso sobre o texto de uma casa de veraneio que fica lá.

Veja aqui o texto que eu traduzi e a primeira parte desta história - História da Famiglia Della Negra

Chegando em Arzignano, liguei de um orelhão para o dono da casa que consegui na internet. Logo fui contando a história a ele sobre a minha vontade de conhecer a casa. Ele ficou impressionado por saber que um Della Negra vindo do Brasil havia acabado de ligar pra ele em Arzignano.

Meu italiano não era tão afiado, mas deu pra explicar exatamente o que eu queria.
Em 15 minutos, depois da explicação de como chegar lá, fomos até a casa para conhece-lo.

O nome dele é Gustavo Mistrorigo, ele é um velhinho desajeitado que cultiva uva no terreno da casa. A casa é enorme e bem antiga, com móveis antigos por todo o lado, mesas de madeira maciça e tem até um fogão à lenha na cozinha.


Parecia que eu estava no século XVII, a casa muito bem cuidada tinha alguns artefatos que pareciam de um museu.
No porão da casa ficava um tonel gigante de carvalho e os equipamentos para fazer o vinho que ele mesmo fazia com as uvas que plantava e colhia no quintal. O tonel devia ter a capacidade de uns 500 litros, ele disse que o tonel foi colocado lá no porão antes de contruírem a casa, fazia sentido, porque não havia como passar aquele tonel gigantesco pela porta.

Papo vai, papo vem, com ele e a mulher dele, tomando um vinho branco espumante de sua própria fabricação, fiquei sabendo que a família Della Negra foi uma família nobre naquela região e que tiveram muitas posses. Hoje em dia ele não conhece mais ninguém da família, desde quando a família Mistrorigo tomou posse daquela casa que ele não ouve falar de um Della Negra.

Inclusive, na história que ele conta naquele texto da Internet e que seus avós contaram para ele, a família Della Negra havia sido extinta por uma maldição da igreja, por isso o espanto dele quando eu liguei e disse que era um Della Negra vindo do Brasil!

Ficamos conversando por algumas horas, ele curioso sobre o Brasil e como os Della Negras haviam chegado tão longe, e eu louco para saber mais da minha família.

O casal de velhos ficou tão espantado que pediu para tirar algumas cópias dos documentos do meu avô e do brasão da família, ele queria deixar lá guardado de recordação, uma prova viva de que a família não havia sido extinta, histórias da inquisição.
Dava pra ver o espanto nos olhos do casal, acho que até hoje eles não entenderam nada do que aconteceu naquele dia, o casal de velhinhos da pacata cidade de Arzignano estava simplesmente atônitos com a minha história e de como eu encontrara aquela casa.

Eu estava mais espantado ainda, respirando o ar que um dia foi respirado pelos meus antepassados, bebendo o vinho que passara pelo tonel que um dia eles também beberam, incrível!

Aquele dia ficou pra sempre na minha memória, ainda lembro de cada momento, cada minuto que estive lá. Uma experiência que não dá para esquecer nunca mais.

Ainda espero um retorno de Montecchio Maggiore sobre os documentos do meu bisnonno, apesar de querer ter uma prova, algum documento dele, acho que depois dessa viagem, qualquer coisa já é lucro, afinal, eu já havia conhecido muita coisa que nunca imaginei conhecer sobre mim.


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**Este texto é uma homenagem ao meu filho, Bruno Della Negra, que acabou de nascer e que um dia vai querer descobrir as suas raízes, assim como o seu pai.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Don Carlini - Massa caseira tradicional da Mooca

Ao visitar o Memorial do Imigrante no Brás, tive a idéia de aproveitar e almoçar ali perto pra não precisar sair e perder mais tempo indo para algum outro bairro.

Lembrei que havíamos ido a um restaurante ali perto em um casamento de uma amiga da minha mulher. Bom, minha primeira impressão foi: Casamento em um restaurante no Brás? Nossa...

No final, o casamento era bem simples mesmo, mas a comida do restaurante me chamou muito a atenção pela suavidade das massas, comi muito e não sai de lá cheio.
Depois do casamento: E ae? Vamos voltar aqui?? Vamos sim!

Ao chegar no restaurante, não me lembrava muito bem, mas a entrada era pela garagem em um galpão, como havíamos ficado por ali, não conhecia o interior da casa.

O lugar é enorme com vários ambientes, uma sala de um imenso casarão antigo muito aconchegante com ladrilhos hidráulicos no piso e janelões de madeira. Na parte externa, em um jardim, ficam as outras mesas do pavimento inferior. No pavimento superior é servido o serviço de buffet de massas, como foi servido no casamento que fui.

De entrada para começar, alguns pasteizinhos de queijo, para matar a fome e esperar a comida, que chegou sem demora.

A massa é artesanal, feita no próprio local, muito suave e leve, não pesa no estômago e é al dente, nem muito mole, nem muito dura, perfeita.
A especialidade da casa são as massas regadas ao molho triplo burro, que abusa da manteiga, muito bom com o rondelli com champignons que provei.
Minha mulher provou um raviolini di espinafre recheado di vitelo, delicioso, em uma porção ideal, muito suave.

O ponto forte da casa fica por conta das massas caseiras e o molho triplo burro. O ponto fraco, pra mim, é a carta de vinhos, achei ela com muito pouca variedade de vinhos e de preço.

O preço do Buffet completo do piso superior é em torno de 50 reais por pessoa com sobremesa, o a la carte, onde comemos, fica em torno de 30 a 40 reais cada prato individual.

As massas são simplesmente deliciosas, uma das melhores massas que já provei, um lugar tranqüilo, e muito tradicional, ideal para levar a família e comer uma verdadeira massa da italianada da Mooca.

Na saída você ainda pode comprar as massa que são produzidas lá na parte de fora do restaurante: grano duro, massas frescas, molhos e doces.
Vale muito a pena conhecer.

Don Carlini
Rua Dona Ana Neri, 265
Mooca - São Paulo